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Resumo
A apresentação de Maria Helena Souto teve como fio condutor o relato do arquitecto Adães Bermudes sobre a sua participação no Congresso Internacional de Arquitectos, ocorrido em Madrid no ano de 1904, no qual se referia à Arte Nova como “estylo da moda”.
A nossa convidada começou por contextualizar o início do movimento Arte Nova em termos internacionais, referindo a obra de autores como Henry van de Velde, Victor Horta ou Hector Guimard. De modo a distinguir a Arte Nova do “estylo da moda”, destacou a importância da associação dos conceitos de estrutura, decoração e função para este movimento.
De seguida, e passando para o panorama nacional, chamou a atenção para a participação de Portugal na Exposição Internacional de Paris, de 1889, na qual Rafael Bordalo Pinheiro teve um papel fundamental ao ser responsável pela decoração do interior do pavilhão português. Terá sido também no contexto deste evento que Bordalo Pinheiro contactou com o movimento Arte Nova, nomeadamente com as peças em vidro de Émile Gallé, que viriam a influenciar a sua obra cerâmica e, em particular, o azulejo.
As duas vias de abordagem à azulejaria Arte Nova dos arquitectos Miguel Ventura Terra e Raul Lino foram também mencionadas. Enquanto Ventura Terra escolhia os azulejos para as suas obras directamente na fábrica – no que foi designado como “via industrial”–, Raul Lino privilegiou uma abordagem ao azulejo enquanto elemento da obra de arte total, desenhando ele próprio os revestimentos para os edifícios que projectava, a par de outros elementos como o mobiliário – sendo este entendimento designado como “via erudita”. Se o primeiro nunca fez azulejos e privilegiava a fábrica, dando espaço aos operários especializados que aí trabalhavam e “pondo na moda” os azulejos dos catálogos, o segundo envolveu-se directamente na concepção da azulejaria. Aliás, a importância das fábricas foi também abordada, mostrando como as mesmas divulgaram este movimento através dos seus catálogos, com particular destaque para as fábricas das Devesas, Fonte Nova ou de Louça de Sacavém; e ainda como “anónimos extraordinários” criaram azulejos Arte Nova em série, alterando, por exemplo, a paleta cromática e assim adaptando a produção ao gosto e necessidades dos clientes.
De seguida Maria Helena Souto abordou as obras de outros arquitectos portugueses que recorreram a revestimentos Arte Nova como Álvaro Machado, Rosendo Carvalheira e o próprio Adães Bermudes. Neste contexto, a investigadora referiu-se ao eclectismo das propostas azulejares, que se caracterizavam por um certo afastamento dos princípios Arte Nova para se tornarem no “estylo da moda”, resultantes da articulação de diferentes vocabulários decorativos. Destacou e analisou, referindo diversos exemplos, a obra do pintor de azulejos José António Jorge Pinto, mas também de vários outros activos na época.
A sessão terminou com diversos exemplos de revestimentos Arte Nova associados ao pequeno comércio, numa situação que parece ter sido característica de Portugal, uma vez que lá fora este movimento está mais próximo da burguesia intelectual.
O debate, que desta vez, e graças à energia contagiante da oradora, aconteceu de pé, foi muito participado, tendo havido ainda espaço para alguma problematização de conceitos e influências da Arte Nova em Portugal.
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ART NOUVEAU AZULEJOS IN PORTUGAL, FASHION STYLE?
Session overview
Maria Helena Souto’s presentation was guided by the story of the architect Adães Bermudes about his participation in the International Congress of Architects, held in Madrid in 1904, which referred to Art Nouveau as a “fashion style”.
Our guest began by contextualizing the beginning of the international Art Nouveau movement, referring to the work of authors such as Henry van de Velde, Victor Horta or Hector Guimard. In order to distinguish Art Nouveau from the “fashion style”, she highlighted the importance of the concepts of structure, decoration, and function.
From then on, and focusing on the national panorama Helena Souto drew attention to Portugal’s participation in the 1889 Paris International Exhibition, in which Rafael Bordalo Pinheiro played a fundamental role in decorating the interior of the Portuguese pavilion. Also, it might have been in this context that Bordalo Pinheiro was in touch with the Art Nouveau movement, namely with the glass pieces of Émile Gallé, which would influence his ceramic work and, in particular, the azulejo (tile).
The two approaches to the Art Nouveau tiles by the architects Miguel Ventura Terra and Raul Lino were also mentioned. While Ventura Terra chose the tiles for his works directly in the factory – the “industrial way” – Raul Lino privileged an approach to the tile as an element of the total work of art (Gesamtkunstwerk), drawing himself the coverings for the buildings he projected, along with other elements such as furniture – the “erudite way”. If the former never made tiles and privileged the factory, giving space to its specialized workers and “putting in fashion” the catalogues tiles, the second was involved directly in the design of the tiles. In fact, the importance of the factories was also discussed, showing how they disseminated this movement through its catalogues, with particular emphasis on the factories of Devesas, Fonte Nova or of Louça de Sacavém; and also as “extraordinary anonymous” created Art Nouveau tiles in series, changing, for example, the chromatic palette and thus adapting the production to the taste and needs of the customers.
Afterwards, Maria Helena Souto approached the works of other Portuguese architects who used Art Nouveau tile coverings such as Álvaro Machado, Rosendo Carvalheira and Adães Bermudes. In this context, the researcher referred to the eclecticism of the tile proposals, which were characterized by a departure from the Art Nouveau principles to become the “fashion style”, resulting from the articulation of different decorative vocabularies. She highlighted and analysed, referring several examples, the work of the tile painter José António Jorge Pinto, but also of others active at the time.
The session ended with several examples of Art Nouveau coverings associated with small commerce, in a situation that seems to have been characteristic to Portugal, since internationally this movement is closer to the intellectual bourgeoisie.
The debate, which this time was standing up, thanks to the contagious energy of the speaker, was very participated, and there was still room for some problematization of concepts and influences of the Art Nouveau in Portugal.