[ — Please scroll down for English version — ]
20 de Janeiro de 2016 | 18h00 | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | sala 2.1
O azulejo vem sendo valorizado em Portugal, do ponto de vista teórico, desde meados do século XIX, numa perspectiva que acentua, de forma crescente, a ideia de identidade. É pioneiro nesse entendimento o texto de Athanasius Raczynski, que reconhece o peso do azulejo enquanto expressão artística de especificidades originais e únicas no país (RACZYNSKI, 1846: 427-434). Pouco depois de Henri Martin (1810-1883) destacar o pendor colorista do povo português e o azulejo como componente do aspecto pitoresco das suas casas (BRAGA, 1995 [1885]: 137), Joaquim de Vasconcelos apresentava uma visão de consciência cultural sobre a cerâmica e o azulejo português (VASCONCELOS, 1883; CÂMARA, 2008: 108).
Sob o espírito nacionalista de doutrinação e propaganda republicana, outros autores continuariam o discurso acerca do carácter da nação portuguesa (BRAGA, 1995). A necessidade de uma consciência cultural colectiva promovida pela República potenciou o culto «do que é português», que incluiu o azulejo. Destacamos José Queirós, autor da primeira tentativa de inventariação dos azulejos existentes em Portugal (QUEIRÓS, 1907), ou Vergílio Correia (CORREIA, 1918), dedicando particular atenção à produção portuguesa.
A propaganda cultural do Estado Novo assentou num discurso folclorista que continuou os princípios defendidos na 1.ª República, numa reciclagem do discurso pré-existente com um invólucro modernista. Os anos 40 e 50 pontuaram-se pelo rastreio de obras de património nacional, sendo também publicada a primeira abordagem de conjunto dedicada ao azulejo português enquanto arte nacional (SANTOS, 1957).
O trabalho basilar de Santos Simões, assente num intenso esforço de inventário, consolidaria a visão da especial preponderância e originalidade da aplicação da arte do azulejo em Portugal e nos seus territórios da Expansão (SIMÕES, 1965, 1969, 1971, 1979).
Presentemente, o azulejo é reconhecido como uma das artes que mais identifica a herança patrimonial portuguesa. Artistas contemporâneos continuam a criar ou a citar obras em azulejo, sendo disso exemplo a representação oficial à Bienal de Veneza em 2013, de Joana Vasconcelos, que recuperou a ideia de nação, implícita através de múltiplos e distintos referentes materiais, destacando-se o revestimento exterior do cacilheiro que constituiu o Pavilhão de Portugal.
Referências Bibliográficas:
– BRAGA, Teófilo – O povo português nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Volume I. 1995 [1885].
– CÂMARA, Maria Alexandra Gago da – “Joaquim de Vasconcelos e o estudo das Artes Decorativas em Portugal: a cerâmica e o azulejo (1849-1939).” Revista de Artes Decorativas. 2: 217-228. 2008.
– CORREIA, Vergílio – “Azulejadores e pintores de azulejos, de Lisboa.” A Águia. 77-78: 167-178. 1918.
– QUEIRÓS, José – Cerâmica Portuguesa. Lisboa: Typographia do Anuario Commercial. 1907.
– RACZYNSKI, Le C. A. – Les Arts en Portugal. Lettres adressées a la société artistique et scientifique de Berlin et accompagnées de documents. Paris: Jules Renouard et Cª Libraires-Éditeurs. 1846.
– SANTOS, Reynaldo dos – O Azulejo em Portugal. Lisboa: Editorial Sul Limitada. 1957.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Les Carreaux céramiques hollandais au Portugal et en Espagne. Haia: Martinus Nijhoff. 1963.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria portuguesa no Brasil: 1500-1822. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1965.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1969.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal no século XVII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal no Século XVIII – edição revista e actualizada. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010 [1979].
– VASCONCELOS, Joaquim de – Exposição de cerâmica / Sociedade de Instrução do Porto: documentos coordenados com uma série de marcas inéditas. Porto, 1883.
____________________________________________________
THE IDENTIFICATION OF AN ART. THE USE OF THE AZULEJO IN PORTUGAL
January 20, 2016 | 18h00 | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | room 2.1
Theoretically speaking, the azulejo started being valued in Portugal since the mid 19th century, with an increasing emphasis on the idea of identity. Athanasius Raczynski was a forerunner in this tendency, with a text acknowledging the azulejo’s specific importance as an original form of artistic expression, unique within the country (RACZYNSKI, 1846: 427-434). Shortly after, Henri Martin (1810-1883) highlighted the Portuguese people’s proneness to colour and the azulejo as part of the picturesque look of Portuguese houses (BRAGA, 1995 [1885]: 137), and Joaquim de Vaconcelos offered a culturally conscious vision of Portuguese ceramics and azulejos (VASCONCELOS, 1883; CÂMARA, 2008: 108).
Under the nationalist spirit of Republican indoctrination and propaganda, other agents pursued the idea of a Portuguese national character (BRAGA, 1995). The need for a collective cultural consciousness, promoted by the Republic, led to the cult of “all things Portuguese”, including the azulejo. Noteworthy in this context are José Queirós, author of the first attempt at cataloguing Portugal’s existing azulejos (QUEIRÓS, 1907), or Vergílio Correia (CORREIA, 1918), focused on Portuguese manufacture.
The cultural propaganda of the Estado Novo was based on a folkloristic discourse carried over from the 1st Republic, enclosing the pre-existing discourse within a modernist wrapping. The decades of 1940 and 1950 saw the systematic tracking of national heritage works and the first general publication dedicated to the azulejo as national art form (SANTOS, 1957).
The groundbreaking work of Santos Simões, based on an intense inventory effort, helped to raise awareness to the special importance and originality of the azulejo in Portugal and the Portuguese colonies (SIMÕES, 1965, 1969, 1971, 2010).
Today, the azulejo is acknowledged as one of the most distinctive art forms of the Portuguese heritage, and contemporary artists continue to create or to quote works in azulejo. An example of this was the Portuguese participation in the 2013 Venice Biennale, authored by Joana Vasconcelos, who sought to revive the idea of nation through the use of different materials, among which the tile covering of the outer surface of the cacilheiro (a Portuguese boat) chosen to house the Portuguese pavilion.
Bibliographical references:
– BRAGA, Teófilo – O povo português nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Volume I. 1995 [1885].
– CÂMARA, Maria Alexandra Gago da – “Joaquim de Vasconcelos e o estudo das Artes Decorativas em Portugal: a cerâmica e o azulejo (1849-1939).” Revista de Artes Decorativas. 2: 217-228. 2008.
– CORREIA, Vergílio – “Azulejadores e pintores de azulejos, de Lisboa.” A Águia. 77-78: 167-178. 1918.
– QUEIRÓS, José – Cerâmica Portuguesa. Lisboa: Typographia do Anuario Commercial. 1907.
– RACZYNSKI, Le C. A. – Les Arts en Portugal. Lettres adressées a la société artistique et scientifique de Berlin et accompagnées de documents. Paris: Jules Renouard et Cª Libraires-Éditeurs. 1846.
– SANTOS, Reynaldo dos – O Azulejo em Portugal. Lisboa: Editorial Sul Limitada. 1957.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Les Carreaux céramiques hollandais au Portugal et en Espagne. Haia: Martinus Nijhoff. 1963.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria portuguesa no Brasil: 1500-1822. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1965.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1969.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal no século XVII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.
– SIMÕES, João Miguel dos Santos – Azulejaria em Portugal no Século XVIII – edição revista e actualizada. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010 [1979].
– VASCONCELOS, Joaquim de – Exposição de cerâmica / Sociedade de Instrução do Porto: documentos coordenados com uma série de marcas inéditas. Porto, 1883.