FORMAS DO DESEJO. A CERÂMICA DE RAFAEL NA COLEÇÃO DO MUSEU BORDALO PINHEIRO

10 de Abril ​​de​ ​2019​ ​|​ ​18h30​ ​|​ Museu Bordalo Pinheiro

[​ ​—​ ​Please​ ​scroll​ ​down​ ​for​ ​English​ ​version​ ​—​ ​]

Naquela que é a primeira edição #ForaDePortas do AzLab, Pedro Bebiano Braga propõe uma visita conversada à exposição Formas do Desejo. A cerâmica de Rafael na Coleção do Museu Bordalo Pinheiro, dividida em dois momentos: 1) a partir de fotografias da época, mostrar a aplicação dos azulejos criados por Rafael Bordalo Pinheiro, na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, na decoração dos espaços comerciais e domésticos. 2) visita à exposição, destacando a arte do azulejo como ornato da cerâmica, o azulejo pintado e os diversos padrões desenhados pelo artista, salientando-se o uso pioneiro da Arte Nova.

Visita conversada com:
Pedro Bebiano Braga [Museu Bordalo Pinheiro]

– – – – –
Foto: Paulo Cintra e Laura Castro Caldas

____________________________________________________

FORMS OF DESIRE. RAFAEL’S CERAMICS IN THE BORDALO PINHEIRO MUSEUM COLLECTION


April 10th,
2019 | 18h30 | Bordalo Pinheiro Museum

In the first AzLab #Outdoors, Pedro Bebiano Braga proposes a talked visit to the exhibition Forms of Desire. Rafael’s ceramics in the Bordalo Pinheiro Museum Collection, divided into two moments: 1) from photographs of the time, the Rafael Bordalo Pinheiro’s azulejos (tiles), manufactured in the Factory of Faience of Caldas da Rainha, will be shown in the decoration of commercial and domestic spaces. 2) visit the exhibition, highlighting the art of azulejo as ceramic ornate, the painted azulejo and various patterns designed by the artist, pointing out its pioneering use of Art Nouveau.

Talk & Visit with:
Pedro Bebiano Braga [Bordalo Pinheiro Museum]

– – – – –
Photo: Paulo Cintra e Laura Castro Caldas

AZULEJARIA ARTE NOVA EM PORTUGAL, ESTYLO DA MODA?


[​ ​—​ ​Please​ ​scroll​ ​down​ ​for​ ​English​ ​version​ ​—​ ​]

Resumo

A apresentação de Maria Helena Souto teve como fio condutor o relato do arquitecto Adães Bermudes sobre a sua participação no Congresso Internacional de Arquitectos, ocorrido em Madrid no ano de 1904, no qual se referia à Arte Nova como “estylo da moda”.

A nossa convidada começou por contextualizar o início do movimento Arte Nova em termos internacionais, referindo a obra de autores como Henry van de Velde, Victor Horta ou Hector Guimard. De modo a distinguir a Arte Nova do “estylo da moda”, destacou  a importância da associação dos conceitos de estrutura, decoração e função para este movimento.

De seguida, e passando para o panorama nacional, chamou a atenção para a participação de Portugal na Exposição Internacional de Paris, de 1889, na qual Rafael Bordalo Pinheiro teve um papel fundamental ao ser responsável pela decoração do interior do pavilhão português. Terá sido também no contexto deste evento que Bordalo Pinheiro contactou com o movimento Arte Nova, nomeadamente com as peças em vidro de Émile Gallé, que viriam a influenciar a sua obra cerâmica e, em particular, o azulejo.

As duas vias de abordagem à azulejaria Arte Nova dos arquitectos Miguel Ventura Terra e Raul Lino foram também mencionadas. Enquanto Ventura Terra escolhia os azulejos para as suas obras directamente na fábrica – no que foi designado como “via industrial”–, Raul Lino privilegiou uma abordagem ao azulejo enquanto elemento da obra de arte total, desenhando ele próprio os revestimentos para os edifícios que projectava, a par de outros elementos como o mobiliário – sendo este entendimento designado como “via erudita”. Se o primeiro nunca fez azulejos e privilegiava a fábrica, dando espaço aos operários especializados que aí trabalhavam  e “pondo na moda” os azulejos dos catálogos, o segundo envolveu-se directamente na concepção da azulejaria. Aliás, a importância das fábricas foi também abordada, mostrando como as mesmas divulgaram este movimento através dos seus catálogos, com particular destaque para as fábricas das Devesas, Fonte Nova ou de Louça de Sacavém; e ainda como “anónimos extraordinários” criaram azulejos Arte Nova em série, alterando, por exemplo, a paleta cromática e assim adaptando a produção ao gosto e necessidades dos clientes.

De seguida Maria Helena Souto abordou as obras de outros arquitectos portugueses que recorreram a revestimentos Arte Nova como Álvaro Machado, Rosendo Carvalheira e o próprio Adães Bermudes. Neste contexto, a investigadora referiu-se ao eclectismo das propostas azulejares, que se caracterizavam por um certo afastamento dos princípios Arte Nova para se tornarem no “estylo da moda”, resultantes da articulação de diferentes vocabulários decorativos. Destacou e analisou, referindo diversos exemplos, a obra do pintor de azulejos José António Jorge Pinto, mas também de vários outros activos na época.

A sessão terminou com diversos exemplos de revestimentos Arte Nova associados ao pequeno comércio, numa situação que parece ter sido característica de Portugal, uma vez que lá fora este movimento está mais próximo da burguesia intelectual.

O debate, que desta vez, e graças à energia contagiante da oradora, aconteceu de pé, foi muito participado, tendo havido ainda espaço para alguma problematização de conceitos e influências da Arte Nova em Portugal.

____________________________________________________

ART NOUVEAU AZULEJOS IN PORTUGAL, FASHION STYLE?


Session overview

Maria Helena Souto’s presentation was guided by the story of the architect Adães Bermudes about his participation in the International Congress of Architects, held in Madrid in 1904, which referred to Art Nouveau as a “fashion style”.

Our guest began by contextualizing the beginning of the international Art Nouveau movement, referring to the work of authors such as Henry van de Velde, Victor Horta or Hector Guimard. In order to distinguish Art Nouveau from the “fashion style”, she highlighted the importance of the concepts of structure, decoration, and function.

From then on, and focusing on the national panorama Helena Souto drew attention to Portugal’s participation in the 1889 Paris International Exhibition, in which Rafael Bordalo Pinheiro played a fundamental role in decorating the interior of the Portuguese pavilion. Also, it might have been in this context that Bordalo Pinheiro was in touch with the Art Nouveau movement, namely with the glass pieces of Émile Gallé, which would influence his ceramic work and, in particular, the azulejo (tile).

The two approaches to the Art Nouveau tiles by the architects Miguel Ventura Terra and Raul Lino were also mentioned. While Ventura Terra chose the tiles for his works directly in the factory – the “industrial way” – Raul Lino privileged an approach to the tile as an element of the total work of art (Gesamtkunstwerk), drawing himself the coverings for the buildings he projected, along with other elements such as furniture – the “erudite way”. If the former never made tiles and privileged the factory, giving space to its specialized workers and “putting in fashion” the catalogues tiles, the second was involved directly in the design of the tiles. In fact, the importance of the factories was also discussed, showing how they disseminated this movement through its catalogues, with particular emphasis on the factories of Devesas, Fonte Nova or of Louça de Sacavém; and also as “extraordinary anonymous” created Art Nouveau tiles in series, changing, for example, the chromatic palette and thus adapting the production to the taste and needs of the customers.

Afterwards, Maria Helena Souto approached the works of other Portuguese architects who used Art Nouveau tile coverings such as Álvaro Machado, Rosendo Carvalheira and Adães Bermudes. In this context, the researcher referred to the eclecticism of the tile proposals, which were characterized by a departure from the Art Nouveau principles to become the “fashion style”, resulting from the articulation of different decorative vocabularies. She highlighted and analysed, referring several examples, the work of the tile painter José António Jorge Pinto, but also of others active at the time.

The session ended with several examples of Art Nouveau coverings associated with small commerce, in a situation that seems to have been characteristic to Portugal, since internationally this movement is closer to the intellectual bourgeoisie.

The debate, which this time was standing up, thanks to the contagious energy of the speaker, was very participated, and there was still room for some problematization of concepts and influences of the Art Nouveau in Portugal.

AZULEJARIA ARTE NOVA EM PORTUGAL, ESTYLO DA MODA?

20 de Março ​​de​ ​2019​ ​|​ ​18h00​ ​|​ ​Faculdade​ ​de​ ​Letras​ ​da​ ​Universidade​ ​de​ ​Lisboa​ ​|​ ​sala​ ​5.2

[​ ​—​ ​Please​ ​scroll​ ​down​ ​for​ ​English​ ​version​ ​—​ ​]

Resumo

Através do relato elaborado pelo arquitecto Adães Bermudes aquando da participação portuguesa no VI Congresso Internacional dos Arquitectos, ocorrido em Madrid, em Maio de 1904, e publicado no 1º número do Anuário da Sociedade dos Arquitectos Portugueses (1905), sabe-se que o primeiro tema em análise abordou a “Arte nova, modern’ style, – «estylo da moda», assim (…) classificada no congresso a fórmula em voga” (p. 75).

A Arte Nova entrou no nosso país com alguma décalage em relação aos principais centros do movimento, mas se a designação escolhida revela a influência francesa, é erróneo considerar a Arte Nova em Portugal como mera cópia de criações Art Nouveau. O movimento surgiu no panorama nacional como intromissão no programa de renovação do nosso artesanato e das artes decorativas na viragem dos séculos XIX para XX, programa marcado pela defesa de uma coerência nacional. Apoiado em estudos das nossas tradições artesanais, levaram-no a cabo criadores como Rafael Bordalo Pinheiro ou Raul Lino, a quem simultaneamente, devemos um primeiro momento de renovação da nossa azulejaria entre centúrias (passando para a segunda década de Novecentos com Raul Lino), obtida pela inspiração no moderno estilo, mas com epicentros diferentes: parisiense em Bordalo; em harmonia com os seus projectos arquitectónicos em Lino, através de padrões que reflectem uma depuração geométrica próxima das correntes escocesas do Modern Style ou da Secessão vienense.

Contudo, a Arte Nova seria em muitos casos entendida em Portugal como (mais) uma gramática decorativa, subtraindo-lhe o carácter inovador do trinómio complementar estrutura-decoração-funcionalidade, elementos de um todo submetido a exigências formais de uma beleza racional com aspirações a arte industrial, o que confere objectiva razão às palavras de Adães Bermudes: “quantos pseudo-artistas, sedentos da popularidade, julgam que fazem arte nova misturando os estilos mais heterogéneos; (…), ou torturando e contorcionando as linhas e as formas, como se fossem reflectidas pelos espelhos côncavos ou convexos que fazem a alegria das feiras”.

Maria Helena Souto | IADE – Universidade Europeia |

____________________________________________________

ART NOUVEAU AZULEJOS IN PORTUGAL, FASHION STYLE?


March 20th,
2019 | 18h00 | School of Arts and Humanities of the University of Lisbon | room 5.2

Abstract

Through the report prepared by the architect Adães Bermudes during the Portuguese participation in the VI International Congress of Architects, held in Madrid in May 1904, and published in the 1st number of the Anuário da Sociedade dos Arquitectos Portugueses (1905), it is known that the first theme under analysis dealt with the “Art Nouveau, modern ‘style, – «fashion style», thus (…) classified in the congress the formula in vogue” (p. 75).

Art Nouveau entered our country with some decalage in relation to the movement’s main centers, but if the chosen designation reveals the French influence, it is erroneous to consider Art Nouveau in Portugal as a mere copy of Art Nouveau creations. The movement emerged on the national scene as an intrusion into the renovation program of our handicrafts and decorative arts at the turn of the 19th to the 20th century, a program marked by the defense of national coherence. Supported on studies of our traditional traditions, designers such as Rafael Bordalo Pinheiro or Raul Lino started this movement, to who at the same time, we owe a first moment of renewal of our tiles between centuries (passing to the second decade of the 19th century with Raul Lino), obtained by the inspiration in the modern style, but with different epicenters: Parisian in Bordalo; in harmony with his architectural projects in Lino, by means of patterns that reflect a geometric clearance close to the Scottish currents of the Modern Style or the Viennese Secession.

However, Art Nouveau would in many cases be understood in Portugal as (more) a decorative grammar, subtracting from it the innovative character of the complementary trinomial structure-decoration-functionality, elements of a whole submitted to formal requirements of rational beauty with aspirations to industrial art, which confers objective reason to the words of Adães Bermudes: “how many pseudo-artists, thirsting for popularity, think they make art nouveau by mixing the most heterogeneous styles; (…), or torturing and contorting the lines and forms, as if they were reflected by the concave or convex mirrors that make the fairs joyful” [free translation].

Maria Helena Souto | IADE – Universidade Europeia |

AZULEJARIA ARTE NOVA EM PORTUGAL, ESTYLO DA MODA?

20 de Março ​​de​ ​2019​ ​|​ ​18h00​ ​|​ ​Faculdade​ ​de​ ​Letras​ ​da​ ​Universidade​ ​de​ ​Lisboa​ ​|​ ​sala​ ​5.2

[​ ​—​ ​Please​ ​scroll​ ​down​ ​for​ ​English​ ​version​ ​—​ ​]

Convidado:
Maria Helena Souto [IADE – Universidade Europeia]

Maria Helena Souto
Professora Associada do IADE-Universidade Europeia, é investigadora integrada da UNIDCOM-IADE e investigadora colaboradora dos centros de investigação CIDEHUS-Universidade de Évora e do IHC-Universidade Nova de Lisboa. Doutorada em Ciências da Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, é também Mestre em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Investigadora Responsável entre 2012-2015, pelo projecto de investigação financiado pela FCT e co-financiado pelo COMPETE, Design em Portugal (1960-1974) e, entre Outubro de 2014 a Outubro de 2018, foi Responsável Científica (Scientific Responsible) pelo IADE – Universidade Europeiano Projecto Europeu de Cooperação de Larga Escala co-financiado pelo Creative Europe Programme, Women’s creativity since the Modern Movement -MoMoWo, que reuniu sete instituições universitárias de Itália, Portugal, Espanha, Holanda, Eslovénia e Eslováquia sob a liderança do Politécnico de Turim.

Autora de vários artigos sobre temas de História da Arte e do Design em Portugal publicados em obras colectivas, catálogos e revistas científicas, nacionais e internacionais, nomeadamente, em 2016, do artigo “Portuguese Design” (in The Bloomsbury Encyclopaedia of Design, vol. 3), e das monografias Portugal nas Exposições Universais 1851-1900 (Ed. Colibri, 2011) e Design Português, 1900-1919 (Ed. Verso da História, 2015), comissariou recentemente as exposições “A Arte Interior. Siza Vieira e o desenho de objectos” (MNAz – Museu Nacional do Azulejo, 2015-16), e “Ensaio para um arquivo: o tempo e a palavra. Design em Portugal entre 1960 e 1974” (MUDE – Museu do Design e da Moda, Lisboa, 2015-16), e co-coordenou os respectivos Catálogos.

– – – – –
Foto: Francisco Queiroz/IPC

____________________________________________________

ART NOUVEAU AZULEJOS IN PORTUGAL, FASHION STYLE?


March 20th,
2019 | 18h00 | School of Arts and Humanities of the University of Lisbon | room 5.2

Invited speaker:
Maria Helena Souto [IADE – Universidade Europeia]

Maria Helena Souto
Associated Professor at IADE – Universidade Europeia and a member of his Design PhD Scientific Commission. She obtained her PhD in Art Sciences at the University of Lisboa and the MA in Art History at the Nova University of Lisboa. Between 2012 and 2015, she was the Principal Investigator at the research project “Design in Portugal (1960-1974)”, financially supported by the FCT and COMPETE, and currently she is the Scientific Responsible from IADE – Universidade Europeia at the EU cooperation project co-funded by the Creative Europe Culture Sub-Programme, MoMoWo – Women’s Creativity since the Modern Movement”.

As an author, she has published several articles about the Portuguese Art and Design History, namely in 2016 the article “Portuguese Design” (in The Bloomsbury Encyclopaedia of Design, vol. 3), and respectively in 2011 and 2015 were published them on ographs Portugal nas Exposições Universais, 1851-1900 (Portugal in the World Exhibitions,1851-1900. Ed. Colibri); Design Português. 1900-1919 (Portuguese Design. 1900-1919, Ed. Verso da História/ESAD, 2015). She recently curated the exhibitions “The Interior Art. Siza Vieira and the drawing of objects” (MNAz – Museu Nacional do Azulejo, 2015-16), and “Rehearsal for an archive:time and the word. Design in Portugal, 1960-1974” (MUDE – Museu do Design e da Moda, 2015-16).

– – – – –
Photo: Francisco Queiroz/IPC