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Resumo
Ana Paula Rebelo Correia abriu o AzLab#37, começando por fazer uma breve introdução à história do Palácio Fronteira antes de passar à análise dos diversos conjuntos azulejares do jardim e da casa, que reflecte o seu percurso de investigação sobre esta matéria. A relação entre azulejo e gravura foi, naturalmente, privilegiada, tendo sido destacada a utilização de fontes gravadas que correspondem ao que de melhor se produziu na Europa no século XVI. A investigadora explorou ainda a comparação com outros conjuntos cerâmicos da época, caso do Palácio da Calheta, em Lisboa, ou da Quinta dos Chavões, defendendo para Fronteira a existência de um programa decorativo global.
Por sua vez, Celso Mangucci apresentou uma leitura dos jardins baseada num discurso original e global, em que azulejo e arquitectura são pensados em conjunto, de acordo com um programa decorativo e iconográfico, e realçando ainda o papel dos arquitectos neste contexto. De acordo com a proposta deste investigador, o programa decorativo e iconográfico dos jardins da Quinta dos Marqueses de Fronteira foi profundamente influenciado pelo programa das festas e entradas régias dos casamentos de Catarina de Bragança e Afonso VI, já que aqui, em 1673, celebraram-se as festas de casamento de D. Fernando de Mascarenhas, 2º Marquês de Fronteira, com D. Leonor Coutinho.
A chave interpretativa do conjunto reside no Lago e Varanda dos Reis: ao centro, a representação do Infante Santo D. Fernando, herói sacrificado pela pátria, articulado com a imagem da Fortuna-Ocasião, funcionaria como uma alegoria a D. Afonso VI, também sacrificado pela segurança da pátria, a favor de D. Pedro, numa solução política que valeu a atribuição do título de Marquês a D. João Mascarenhas, então Conde da Torre. As implicações de outros tópicos iconográficos seguem esta linha de raciocínio, na qual se reconhecem, por exemplo, a fonte central com Pégaso e as Musas e os doze cavaleiros de Inglaterra nos doze cavaleiros do lago. Por fim, Celso Mangucci referiu-se à importância do arquitecto aproximando este discurso da figura de João Nunes Tinoco.
A ligação do programa iconográfico ao discurso escrito, neste caso influenciado pelo poema épico de Camões, uma referência comum dos programas das festas do período, foi um dos aspectos depois realçado já no período de debate, em que as novas interpretações propostas foram muito discutidas, num debate salutar que envolveu os convidados e a assistência.
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A CONTINUOUS STRAND: ARCHITECTURE, DECORATION AND ICONOGRAPHY OF THE GARDENS OF THE FRONTEIRA PALACE
Session overview
Ana Paula Rebelo Correia opened the AzLab#37, beginning with a brief introduction to the history of the Fronteira Palace before going on to analyze the various azulejo (tile) sets of the garden and the house, which reflects her research path on this subject. The relationship between tile and engraving was, of course, privileged, with the use of engraved sources that corresponded to what was best produced in Europe in the 16th century. The researcher also explored the comparison with other ceramic sets of the time, such as the Calheta Palace, in Lisbon, or Chavões Manor, defending for Fronteira the existence of a global decorative program.
In turn, Celso Mangucci presented an interpretation of the gardens based on an original and global discourse, in which tile and architecture are thought together, according to a decorative and iconographic program, and also highlighting the role of the architects in this context. According to the proposal of this researcher, the decorative and iconographic programme of the gardens of the Marquises of Fronteira Manor was deeply influenced by the programme of feasts and the royal entrances of the marriages of Catherine of Braganza and Afonso VI, since in the manor, in 1673, were celebrated the wedding feasts of D. Fernando de Mascarenhas, 2nd Marquis of Fronteira, with D. Leonor Coutinho.
The interpretative key of the set resides in the Lake and Balcony of the Kings: at the center, the representation of Infante Santo D. Fernando (Ferdinand the Holy Prince), a hero sacrificed for his country, articulated with the image of Fortune-Occasion, which would function as an allegory to D. Afonso VI, also sacrificed for the security of the country, in favor of D. Pedro, in a political solution that earned the title of Marquis to D. João Mascarenhas, then Count of Torre. The implications of other iconographic topics follow this line of reasoning in which, for example, the central fountain with Pegasus and the Muses and the twelve knights of England are recognized in the twelve knights of the lake. Finally, Celso Mangucci mentioned the importance of the architect approaching this speech to the figure of João Nunes Tinoco.
The connection of the iconographic program to the written discourse, in this case influenced by the epic poem of Camões, a common reference of the programmes of the celebrations of the period, was one of the aspects highlighted during the debate period, when the new interpretations proposed originated a very salutary debate that involved the guests and the audience.