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Resumo
José Luís Mingote Calderón iniciou a sua apresentação referindo-se à crescente importância que o azulejo reassumiu no início do século XX, com a aplicação de painéis em locais públicos um pouco por todo o país, numa tendência que se estendeu à primeira metade do século. O investigador cruzou este facto com a ideia de identidade, também relacionada com a recuperação do azulejo a azul e branco, entendido como uma evocação de um período considerado áureo na história da azulejaria nacional – o barroco.
A investigação de Mingote Calderón contemplou mais de 80 lugares e de 800 painéis distribuídos um pouco por todo o território nacional. Os temas estudados, e de acordo com a sua área de investigação – antropologia – e os seus interesses pessoais, circunscrevem-se às paisagens, monumentos, cenas etnográficas e, em menor medida, aos episódios históricos ou religiosos.
De acordo com o seu estudo, a escolha dos motivos representados nos azulejos devem-se a quatro principais factores: ao nacionalismo, recuperando o ideal de Almeida Garrett; ao turismo; à propaganda turística e política, como exemplificam as imagens exibidas em exposições universais, de que são exemplo a Exposição Universal de Paris de 1900 e a Exposição Ibero-americana de 1929 de Sevilha, em que o pitoresco português difunde um Estado de paz; e aos meios de comunicação de massas.
Explorando a relação entre fotografia e azulejo, Mingote Calderón mostrou que há variadíssimos casos em que a fotografia que serviu de modelo ao painel dista no tempo várias décadas e é usada inúmeras vezes, num repertório de temas com pouca diversidade. Ao longo da sessão, foram apresentados vários exemplos de como as composições podem ser construídas a partir de imagens de fotografias e bilhetes-postais ilustrados.
Na verdade, algumas reflexões do autor apontam para a ideia de uma realidade construída, a começar pela forma como são seleccionados elementos para compor uma cena figurativa, que podem provir de diferentes fotografias, ou pelo modo como os elementos seleccionados podem ser isolados, isto é, perderem o contexto original da fotografia para serem (re)criados em novos contextos construindo, consequentemente, novas realidades. Trata-se de um processo que não deixa de evocar a forma como eram também construídas as composições barrocas no século XVIII.
Abriu-se depois o debate, em que as diversas questões levantadas pela audiência e pela moderadora procuraram clarificar alguns dos temas referidos. Entre estes destacamos as associações entre a propaganda difundida pelo azulejo com conotações religiosas ou as comparações entre as gravuras usadas no barroco e a fotografia no século XX. Por fim José Luís Mingote Calderón referiu que se prevê que a exposição Da Fotografia ao Azulejo inaugure em Dezembro próximo no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa.
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PHOTOGRAPHY IN A CONSTRUCTION OF A “REALITY” IN AZULEJO
Session Overview
José Luís Mingote Calderón began his presentation by referring to the growing importance reassumed by the azulejo in the early 20th century, with the application of panels in public places all over the country, in a trend that has spread to the first half of the century. The researcher crossed this fact with the idea of identity, also related to the recovery of the blue and white azulejo, understood as an evocation of a golden period in the national history of azulejo – the baroque.
The research of Mingote Calderón included more than 80 places and 800 panels distributed all over Portugal. The subjects studied, and according to his field of research – anthropology – and his personal interests, are confined to landscapes, monuments, ethnographic scenes and, to a lesser extent, to the historical or religious themes.
According to his research, the choice of motifs represented in the azulejos are due to four major factors: nationalism, recovering the ideal of Almeida Garrett; tourism; the tourist propaganda and politics, as is exemplified by the images displayed on the universal exhibitions (Paris Universal Exhibition – 1900; Ibero-American Exhibition in Seville – 1929) in which the Portuguese picturesque disseminates a State of peace; and to the means of communication for the masses.
Exploring the relationship between photography and the azulejo, Mingote Calderón showed that there are numerous cases where the photograph that served as a model to the panel is distant in time several decades and is used numerous times, in a repertoire of subjects with little diversity. Throughout the session, were presented several examples of how the compositions may be constructed based on photographs and postcards.
In fact, some reflections of the author points to the idea of a constructed reality: some elements selected to compose the figurative scenes may come from different photographs, or the selected elements can be isolated, i.e., losing the original context of the photograph to be (re)created in new contexts, constructing, consequently, new realities. It is a process that evokes the construction of the baroque compositions in the 18th century.
Afterwards, there was a period of debate, in which the various questions raised by the audience and the moderator sought to clarify some of these issues. Among these we highlight the associations between the propaganda disseminated by the azulejo with religious connotations or the comparisons between the engravings used in the baroque and the photography in the 20th century. Lastly José Luís Mingote Calderón said it is expected that the exhibition “From photography to tile” will open next December in the National Museum of Ethnology, in Lisbon.